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30 janeiro, 2006

Flocos de Neve


Para recordar, 29 Janeiro de 2006.

Encontro-me sozinha em casa e não está aqui ninguém, só eu e o espírito das coisas que parecem estar paradas no tempo, mas movem-se furtivamente sem aperceber das suas diversas tonalidades com vida própria.
Encostada no sofá, de telecomando na mão primado cada botão de um canal sincronizado e noto que não há nada de interessante para ver, que faço? Remendo-me ao silêncio de uma revista, leio frases saltitando de parágrafo em parágrafo avidamente de um desejo ardente prestes a ser devorado pelos meus olhares curiosos e dilatados.
O telemóvel permanece a meu lado sobre um azul-marinho no descanso da sua funcionalidade, quieto sem nenhum sinal de vida, apenas prontificado e esperado que alguém o pegue afectuosamente. Talvez por sentir raiva e rabugice decidiu despertar-se com uma vibração absolutamente tremida, mas forte para me chamar atenção e pegar nele como desejava carinhosamente. Desbloqueio, vejo a mensagem sobre um televisor minúsculo mas cheio de cores onde existe um simples contraste de azul, laranja, vermelho, lilás.
A mensagem é reaberta, o destinário revela-se e é a minha mãe:

“Vai à janela está a nevar!”

Pensei:

“A nevar? Será verdade, aqui no Seixal a nevar?”

Levanto-me em sobressalto, abro o cortinado e contemplo a paisagem espantada com quedas de pequenos flocos de neve, dou meia volta e corro imediatamente para o meu quarto onde agarro e visto o meu blusão, ao lado está um candeeiro que por acima fica o gorro branco. Meto na cabeça, corro para a sala e abro a porta da varanda onde sou surpreendida pela vaga gelada do frio.
Já estou aqui fora a maravilhar esta oportunidade, crianças do bairro entusiasmadas e de braços abertos para o céu, pela primeira vez na vida vi o nevar levezinho no Seixal, pensei:

“Que raio se passa com o tempo? Isto não é lá muito frequente acontecer, é de certeza um fenómeno de anormalidade temporal!”

Subitamente fui atacada pelas lembranças de infância na Serra da Estrela…

27 janeiro, 2006

Pré-Adolescência


Ainda com nove anos, estava destinada a estimular todos os meus sentidos até à abundância da minha criatura humana, em que a curiosidade era ilimitada mesmo tendo ficado maravilhada ao ler os meus pensamentos dentro da cabeça pensadora como um simples encaixe de puzzles minúsculos, no ponto de as tornar perceptível o meu verdadeiro EU.
Já não era apenas uma criança, mas a tornar-se numa criança pré-adolescente com uma maturidade precoce onde já não me reconhecia totalmente. Eu era uma estranha, uma desconhecida de corpo desfigurado e mudado mas sentia bem comigo mesma, fui ficando cada vez mais alta, a máquina biológica estava a desenvolver a cintura, os seios e um feitio insuportável de fazer a vida negra a todos que conhecia, será que tinha uma forte personalidade?

Desde que nasci, eu e a família costumamos passar as férias todos os anos no norte de leste, numa pequena província em Sarnadas de Ródão que fica cerca de 160 km da fronteira espanhola.
Já tinha passado a época do Natal e do Ano Novo, os meus pais decidiram visitar os meus primos na Covilhã, eu simplesmente delirava como uma verdadeira apaixonada de rever os meus primos Olga e Tiago. A diferença de idades entre mim e a Olga (a mais velha) é de cinco anos e o Tiago era um verdadeiro patife, até pior um autêntico PESTE por ser o mais novo do grupo.
Só me lembro de estarmos bem agasalhadas no sofá da sala com toneladas de cobertores enroladas aos nossos corpos a ver um filme americano acerca dos adolescentes. De rompante aparece o Tiago a fazer birras de infantilidades e asneiradas de atormentar as nossas paciências, avisámos-lhe que parasse senão sofria com as nossas consequências, entretanto a paciência tinha-se esgotado abruptamente!
Levantamo-nos as duas, e agarrei-o com todas as minhas forças e ele com um sorriso manhoso pois ele nunca se dava por vencido, só que desta vez o momento era nosso… só nosso!
O Tiago gritava, agitava os braços e esperneava as pernas numa tentativa de soltar-se e foi aí que a minha prima teve uma ideia, resolveu tirar os atacadores dos ténis dele no propósito de o prender nas suas pernas e não dar-nos tanto trabalho de segurá-lo. Tinha uma agilidade impressionante!
Braços e pernas prendidas pelos atacadores finos, como a criatividade nos levava ainda mais longe de tornar a nossa brincadeira mais insuportável, que pudesse ser uma marca registada como um dos seus piores momentos, dirigi ao quarto da Olga e procurei algo em redor, não foi preciso mais de milissegundos que surgisse uma grande lâmpada na minha cabecinha pensadora: o Kit de maquilhagem!
Acelerei os passos apressadamente para a Sala, ao entrar esboço um sorriso manipulado para o Tiago, e a Olga estava estupefacta e riu-se desalmadamente para o irmão “ai mano, vais pagar e sofrer à custa da nossa maldade!”
Mãos ás obras, alguém tinha de segurar a cabeça do Tiago, nem eu e a Olga queríamos até resolvemos atirar a moeda ao ar, escolhi cara e ela coroa e o resultado final foi a cara, sorridente pequei no Kit de maquilhagem e lá fui pintando a cara do Tiago, embora não ficasse na perfeição é que continuava a ter força suficiente para abanar compulsivamente a cabeça de um lado para o outro, alias também a tentativa de mordeduras não passavam despercebidas.

Ficou LINDO, o boy-ragazza de olhos esverdeados!

Embrulhámos-lhe com os cobertores a circular no chão, o coitado deve ter visto os seus olhos aos círculos, devido ao enrolamento! Cada uma pegou o seu lado e levamos o Tiago até à porta da cozinha onde estavam os nossos pais na conversa, bastou-nos bater a porta e fugir-mos para a sala e rir-mos de gargalhadas!

O nosso castigo veio depois, mas não arrependemos pois ele teve aquilo que merecia há tempos!

11 janeiro, 2006

Sou Taekwondista


Desde os meus dez anos pratico alta-competição, o TAEKWONDO é o meu máximo expoente, o meu porto libertador quando me submirjo até desaparecer sem deixar indícios na totalidade dos fenómenos psíquicos.
Vivo na expectativa da competição, é dentro do ringue nos tapetes enquadrados e divididos por duas cores predominantes de vermelho e azul que começo a ser alguém na vida: sou temida por uns, odiada e adorada por outros que não me vêem como Surda mas como Desportista.
O cheiro da agressividade é saboroso, a transpiração da ansiedade de competir é tocante, mas o momento de três minutos em cada três Rounds parece uma eternidade em câmara lenta.
A fome inigualável da adrenalina a subir e dar o meu melhor por tudo e pelo nada com as cenas mais radicais e movimentos espectaculares, as tácticas, as velocidades dos pontapés no ar onde me dá uma vista impotente da graciosidade. A vontade de meter os pés acima do tapete, de corpo musculado inteiramente equipado a elevar o espírito do TAEKWONDO de uma forma expressiva e inesperada, acima de tudo de PAIXÃO.

Isto é a minha vida que carinhosamente abracei na entrada da juventude, não me arrependo!

Prova de Fogo: 14 Janeiro – Primeira Prova de Apuramento do Campeonato Nacional de Combates, Leiria.

06 janeiro, 2006

Emoções Digitalizadas


Estive uma semana fora do blogger, necessitei de me afastar por um determinado tempo até me encontrar interiormente. Os meus pensamentos viajavam a uma velocidade vertiginosa em direcção ao fundo do abismo aquático, e o meu coração recebia impressões de emoções digitalizadas dentro das bolhas de ar.
O poder da mente guerreou lado a lado todas essas atrapalhadas cépticas, levando-me para cima onde entremostrava um brilho intenso: a guerreira estrela faiscante do sol.
Cheguei à superfície banhada de água em salpicos, pude sentir os seus raios de calor com um toque meigo a dedicar-me inteiramente toda a proximidade da energia, catalizando-me um motor de vida.
Tudo que senti foi tão estranho, alias tão estupidamente inexplicável que dificilmente possa dizer, uma mistura de vários sentimentos em sabores diferentes: sofrimento, indignação, incerteza, raiva, e desolação por não ouvir.
A TEXERE escreveu "Surdo é aquele que não quer ouvir”, entendi perfeitamente mas a questão não é esta, porque não me considero uma pessoa Surda ou Deficiente Auditiva, na verdade não o sou. Simplesmente não ouço mas a minha consciência têm uma fábrica poderosa que ela própria me apelida de Ouvinte, e Surda é apenas uma máscara falsa que a sociedade criou.
Não tenho a cultura da Comunidade Surda, a sua maneira de ver as coisas, o pior é que não me interligo bem àquele mundo diferente do meu, certamente que muitos ficam tão abismados por ler esta afirmação, apenas sei gestualizar a Língua Gestual Portuguesa não oficialmente, dado que foram poucos amigos que me ensinaram um idioma para a dimensão de dois mundos alterados.
Porque não ouço? Porque me tiraram este sentido? Isto é uma constante incógnita que não tem a resposta que tanto desejava, então como apareceram aquelas emoções conturbadas? Todos os dias quando vou para a faculdade passeio pela rua e me divirto, vejo adolescentes e adultos a expor uma ruidosa gargalhada dada a prerrogativa de gostar saber o tema amplo dos risos, uma efémera curiosidade!
As conversas longas e a música são assim tão importante? No que a torna especial? Como é o cantar dos pássaros? Que melodia dá o mar e o vento? Ou como é a música que o mundo dá à audição?
Não tenho culpa de exigir, a minha consciência está a me pedir para alargar montes de coisas e que continue ser assim…

Que 2006 seja o ano da realização de muitos sonhos!

Dia 7 de Janeiro: Estágio de TAEKWONDO de combates, GO TO!

A boa nova: recuperei a minha lesão, uippiii!