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23 abril, 2007

O Blog...

(Photo By Memorex)

....vai ficar temporariamente

ENCERRADO


Estou aqui, relatando a minha milagrosa caminhada ao Implante Coclear.

Suave, suavemente á espera dos dias felizes, da resposta embrulhada que irá mudar por completo a minha vida.





25 fevereiro, 2007

Sorrisos de Gris

(Art By Memorex)

Sim, foi exactamente assim como digo, um encontro mágico! O nosso contacto renasceu no Fórum Implante Coclear, do Brasil, enquanto procurava informações assíduas acerca do portentoso Ouvido Biônico.
Houve simultaneamente uma pessoa, que me respondeu prontamente as questões do mesmo lado Atlântico que as brisas sussurrantes ameigaram os nossos rostos lusitanos.
Quem diria, nós, poetas no país plantado á beira-mar com a mesma particularidade e admiração pelo desconhecido.

No entardecer, á saída da faculdade dirigia-me á Papelaria Fernandes onde iria comprar material para um trabalho. O bonito tempo reservou raios de sol incandescentes, na linhagem das nuvens acinzentadas onde neste instante o observei á distância, de boné verde e casaco vermelho com óculos de sol, e uma pala fina, comprida branca.
Presenciei, uma palpitação intuitiva questionando se seria ele a pessoa com quem trocava correspondência. Aproximei com naturalidade, censurei os seus ouvidos implantados e fiquei suspensa arfando e agitada!

Não querendo assustá-lo, sendo ele um surdocego comum. O meu sorriso esboçou timidamente diante dele.
O “Zé Pedro”, que muitos o tratam carinhosamente, alegrou-se meio atrapalhado com tanta emoção disparando um rugido sonoro: Alice!
As horas, passaram inalteradas dentro do Café pelo barulho do trânsito caótico na Avenida de Estrela, espantosamente conversamos, dispusemos as nossas curiosidades e muitas dúvidas minhas esclarecidas acerca do IC. Foi magnífico nas explicações, ainda mais encantada pela sua tremenda força!!!

Chegara a hora, de irmos embora. Lado a lado, dirigíamos ao Metro. De repente fui parada por ele antes de avançar a passadeira:

- Espera, estou a ouvir uma ambulância.
- Consegues ouvir?!
-Sim consigo e o Implante Coclear não têm mesmo nada a ver com os Aparelhos Auditivos. È completamente diferente, mal posso esperar que sejas implantada.
- Pois é, vamos ver se tenho esta possibilidade.
- Vais ter, no que me contaste de os teus ouvidos estarem bem!

Passando 40 segundos, aparece a ambulância em alta velocidade!!! Estava tão fascinada e não queria acreditar que ele tinha ouvido! Prestes a entrar, apercebo da sua dificuldade em descer nas escadas. Dei-lhe como suporte o meu braço, segurando-o apenas.
Aí neste momento, cada um foi para o seu lado.

Foi tão forte, que nem aguentei tanta emoção. Por segundos julguei que iria chorar no meio da multidão freneticamente apressada. Mantive-me discreta.

11 fevereiro, 2007

Sobrenatural

(Art By Memorex)

Tudo começou a encaixar-se como as peças de um simples puzzle, capaz de despertar todas as impressões invulgarmente por um toque e encantamento.
Um sonho povoado de imagens a beber espaços e sinais esculpidos em pormenores intensos, um bando de crianças inocentes pertencentes a um grupo. Ambos carregavam instrumentos musicais, no descampado verdejante, longe de tudo, do rebuliço e da desordem!
Olhei em sobressalto para uma delas, cabelo curto á rapaz, a face arredondada, o primeiro olhar imprevisível, um sorriso encantador, as próteses auditivas bem visíveis.
Contemplava, admirada e boquiaberta. Inerte, de corpo paralisado no impulso que urgia o momento. Um jogo de palavras silenciosas.
A telepatia, o renascimento de um vulto figurado, uma cópia da minha humanidade, o “eu” existente. Ela é eu. Eu vi-me no seu (meu) reflexo.


Tinha nas suas (minhas) mãos, uma Flauta preta.

Ela é a minha (foi) mensagem, o toque desesperado que em tempos de tempestade emanava um floco alaranjado da minha Surdez. Um homem, desconhecido empoleirado de frases soletradas, a incompreensão e frustração do meu não entendimento fez com que me assustasse ventos ondulantes.
Chamou a criança surda, e pegou num pincel. A acção e os gestos transformaram-se em palavras.

As cores, violeta e azul estampadas na sua (minha) face.

Mensagem codificada da "A Decisão Final"

06 fevereiro, 2007

A Maior Responsabilidade

(Art By Memorex)

Mora aqui, "A Decisão Final" com o fundo a preto e as letras salpicadas de cor da minha Surdez.

17 janeiro, 2007

Timbres

(Photo By Memorex)

No silêncio de uma cachinada, as feições traçadas na sua aragem inocente explodem ingenuidades. Possuidora de uma encorpadura rebelde em crescimento, moldando linhas definidas de que a tornará numa bela rapariga talentosa.
Porventura, do seu dom musical. Observo-a bastante, estudo os seus movimentos agarrando desajeitadamente o Saxofone, pesado e robusto.
Os seus braços não se quebram, habituada a segurá-lo, o instrumento metal com chaves e embocadura de palheta. Vislumbro um objecto escondido na parte alongada do seu braço, formado um ramo de árvore, carrega um livrete de composições musicais de Jazz.

As pupilas dilatam, intensamente. Instruídas á sua fiel cor, castanhos dourados como mel obedecendo ao padrão da sua beleza morena. Continuo a espreitá-la, disfarçada sem fazer nenhum alarido por detrás da porta semi-aberta.
Neste instante os lábios esboçam-se lentamente, sim, ela sabe que estou ali a espiá-la. Não faço nada, deixo-me á mercê do emudecimento, assistindo o momento.
O livrete é aberto onde os seus dedos folheiam páginas á procura de uma melodia, parou e deve ter escolhido uma obra agradável.
Está a preparar-se, coloca os seus dedos nos botões dourados rítmicos, a boca ajustada na palheta preta e os olhos fixados nas notas saltitantes. Sustenta a respiração e os sons renascem vivos, energéticos.
Fui sacudida, pelo toque capitular dos meus aparelhos auditivos e toda a música estava no ar, invisível!

Não é irritante como o som da Flauta, um agudo agressivo e incómodo. Mas agradável, fecho os olhos, ouço-a com profundeza, abro a porta e deixo-a entrar embriagada de sede num vendaval de emoções.
São notas gigantes e pretas suspensas no ar. Cada símbolo musical com um par de asas incomparáveis.
Entrei no mundo imperceptível dos sons e soube instintivamente que podia voar entre as melodias. Elevo-me sem asas e rodopio apaixonada, ouvindo a orquestra sublime.

Saxofone, de Jean-Yves Fourmeau.

10 janeiro, 2007

Palavra

(by Memorex)

Bebo-as todas, pequenas letras desarrumadas que se vão juntando, transformando-a numa Palavra bem alinhada. Não é açucarada, nem amarga, perto ou distante.
È delicioso, cativante e arrebatador na ligeireza de uma borboleta determinada a fabricar o resultado aerodinâmico dentro do meu Ser.

Detonando sentimentos ilusionistas, de encantamento extraordinário derramando um diamante nítido, na imensidão do oceano.

O meu mar.

São pinceladas de um azul profundo e electromagnético. Tudo me atrai, seduzindo-me apenas, sem intenção as suas pequenas belezas e simplicidades que elevam em pensamento o meu sentir.

Letras enamoradas no entretenimento espontâneo, do olhar atento e viajante á descoberta de novos mundos linguísticos. Chapear no prazer incontrolável da literatura, amando:

- PALAVRAS.