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11 outubro, 2005

O "DO" = Caminho ou Estrada


Existe um termo etimológico comum a todas as artes marciais, que estudado devidamente e em profundidade, nos ensina a diferença em relação aos outros géneros de actividade física e desportiva. Refiro-me ao termo “DO”, cuja tradução para português significa caminho ou estrada, mas tem, dentro de si, um conteúdo muito mais profundo e significativo.
De facto, para além do caminho que indica, pressupõe, também, todos os seus quilómetros, metros e centímetros, isto é, todas as experiências físicas, psicológicas e espirituais, que vão dando ao praticante uma grande consistência pessoal. Tornar-se-á, desta forma, um ser social apto a ultrapassar todas as adversidades que se lhe vão deparando ao longo de outro caminho paralelo e mais abrangente - a própria VIDA. Com todo este significado, não nos é difícil ver a separação entre a preocupação por uma execução perfeita, exigida nos desportos de competição, e os objectivos de uma disciplina, na qual a técnica requerida nos movimentos é apenas um instrumento ao seu serviço.
É, por assim dizer, o objectivo de caminhar para atingir a meta, em oposição do objectivo de atingir a meta o mais depressa possível. Consiste, ainda, em encarar a actividade física como um meio saudável de enriquecer a própria vida através do aperfeiçoamento integral da pessoa, ao invés de uma actividade física encarada como um meio de promoção da nossa imagem perante os outros, caindo assim na tentação de promover somente a dimensão física, em detrimento da dimensão psicológica e espiritual de todo o movimento.
De facto, por sermos seres integrados e constituídos por várias dimensões, seria conveniente que, em qualquer experiência, nunca nos esquecêssemos dessa nossa constituição. Estaríamos, assim, a prevenir a desintegração da unidade interior da pessoa e a promover o desenvolvimento integral de todas as faculdades pessoais.
O entendimento, visto pelo espírito Oriental e apoiado no pensamento “Zen”, fez com que os conhecimentos passassem de geração em geração, de mestre para alunos, com variações técnicas condicionadas pelo contexto exterior de cada época, mas, sempre, à volta de uma mesma ideia: o conhecimento das coisas, na sua forma real, e de si mesmo como meta final.
Este “DO” é a intuição ensinada, que nos leva ao paradoxo de que algo íntimo e particular pode ser ensinado e até fazer escola. Por isso, o mestre cultiva também a sua intuição, como meio de preservar a sua individualidade e a sua riqueza pessoal, sem desvirtuar a origem e a essência do “CAMINHO”.

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